Resenha de DOWN HOUSE, 1858
Romance histórico de Lucio Carvalho
Por Ana Claudia Brandão
Down House é um livro gostoso de ler. Destes que você dá forma a todos os personagens na sua cabeça, monta cenas com as paisagens bucólicas das pequenas cidades da Inglaterra vitoriana, participa do cotidiano de uma casa de família grande e, quando percebe, este filme está montado dentro na sua imaginação, assistido, e com aquela vontade de continuidade.
E apesar de tratar de um episódio breve na vida de uma pessoa de fama mundial, o naturalista Charles Darwin, a estrela do livro é a narração em primeira pessoa pelo mordomo Joseph Parslow, que nos faz íntimos na observação das ideias e sentimentos de todos que circulam por Down House.
É emocionante como Parslow relata ao filho Arthur toda a sua visão do andamento da casa na época do nascimento de Charlie, o décimo e último filho de Charles Darwin e sua esposa Emma. Charlie era um “bebê diferente”, e chama muito a atenção em como foi recebido de maneira tão amorosa pelos seus pais numa época em que as famílias se envergonhavam e excluíam membros que se afastavam do que consideravam digno daquele status.
É interessante pensar que Charlie nasceu na época de consolidação das ideias de seu pai sobre a teoria da evolução das espécies: um ser frágil, provavelmente não sobrevive. Mas esta explicação racional de que os mais fortes é que ficam não encontrou espaço no coração de Darwin e de Emma quando se tratou do seu “pobre bebê”.
O conflito entre a ciência e a religião também aparece nas observações que Parslow nos descreve da relação entre o seu patrão e o reverendo da vila, o Sr. Innes: amigos que se respeitam apesar das suas diferentes explicações sobre as mazelas da vida.
Down House nos leva a ler e viver uma história interessante, curiosa e amorosa, onde podemos refletir sobre o valor de uma nova vida, que muitas vezes traz o inesperado. E nos permite também fazer um paralelo com os dias atuais sobre a aceitação e inclusão do inesperado nas nossas vidas, de um bebê Charlie.
Ana Claudia Brandão
Médica-pediatra. Coordenadora do Núcleo de Estudos sobre a Criança e o Adolescente com Deficiência da Sociedade de Pediatria de São Paulo
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